segunda-feira, 14 de abril de 2014

QUASE A METADE DO MUNDO. Jo 4:5-42.



As estatísticas indicam que numericamente há mais mulheres que homens na população mundial. Somos mais ou menos 7 bilhões de seres humanos criados à imagem e semelhança do Criador, o Deus Eterno, iguais em todos os aspectos humanos, mas diferentes em nossas características próprias; em liberdade e fraternidade para relacionamento entre si e com o Criador : este é o propósito original de Deus para a raça humana.
O desenvolvimento da História da humanidade tem mostrado que o mal, o pecado surgido na raça humana, tem desvirtuado o propósito do Criador, quebrando as relações de igualdade entre ambos os sexos; corrompendo a liberdade e se estabelecendo relações de escravidão de uns sobre os outros de várias maneiras e fragilizando a fraternidade entre os indivíduos da raça humana.
O Evangelho joanino de hoje, mostra um inusitado diálogo entre Jesus de Nazaré, O Mestre, e uma mulher samaritana. O contexto sócio-político-econômico vigente à época, se pudesse dizer alguma coisa, diria : “sou contra.”!
O povo samaritano era o resultado da miscigenação de vários povos com os remanescentes das tribos do Norte de Israel, levadas cativas pelo Império Assírio, por volta do ano 722 A.C. Portanto, não eram aceitos e nem reconhecidos pelos judeus da época como parentes ou irmãos de sangue, embora conhecessem as tradições judaicas como o demonstra a mulher samaritana.
Outra consideração é que Jesus Cristo é tido e respeitado como um rabino judeu, embora não tenha frequentado nenhuma escola rabínica nem pertencesse a alguma delas, e como tal não poderia manter diálogo com uma mulher, particularmente em vista das leis de purificação. Entretanto, Ele não segue as regras estabelecidas pelos conceitos judaicos, andando e convivendo com as mulheres, já desde a Galiléia. Ele simplesmente quebra e ultrapassa todos os conceitos estabelecidos pela sociedade vigente, tanto civil como religiosa.
O não seguimento de regras pernósticas e preconceitos permite que Jesus se aproxime da mulher samaritana simplesmente como um homem necessitado : “Dá-me de beber.”, e com isto Ele está pedindo basicamente uma demonstração de solidariedade. Dar água aqui, é uma ação de acolhimento, solidariedade e hospitalidade.
Esta aproximação é possível porque Ele se coloca como um dependente; Ele Jesus Cristo, o Senhor da História e da vida, se coloca como um igual!!! Neste contexto, isto elimina toda a empáfia proverbial dos judeus com respeito aos samaritanos e dos homens com respeito às mulheres.
A partir de então, o próprio Jesus Cristo no desenvolvimento do diálogo com a mulher samaritana, se coloca como Aquele que tem e é a água da vida! A fonte renovadora da vida que tem concretização na ação do Espírito de Deus que cria, renova e transforma a cada momento e instante da vida, todas as pessoas, mulheres e homens neste mundo de Deus. O Espírito é interior, é personalizado!!!
Por isso o encontro com Deus, o Eterno, não mais se dá em um local geográfico : aqui, ali, acolá, nesta Igreja, naquele Templo!!! O encontro com Deus se dá no encontro com Cristo, O Peregrino; o encontro com Deus se dá no encontro com o próximo de si mesmo; o encontro com Deus se dá no encontro com nosso semelhante : toda mulher e todo homem, criaturas de Deus!!!
O Eterno pode ser encontrado na simplicidade da vida, nos gestos de amor, de amizade, de acolhimento e no mistério da solidariedade entre os iguais, que são diferentes em suas características!!!
O Evangelho de hoje nos desafia a viver e experienciar a partilha, a solidariedade com o próximo no encontro do Cristo com a mulher samaritana, representativa de quase a metade do mundo de pessoas em que vivemos, nos movemos e existimos!
A partilha e a solidariedade com o próximo não se encontra nas formas de culto, louvor e adoração simplesmente. Mas, transcendentemente, num constante fluir da água da vida em cada um de nós, cristãs e cristãos, para que haja criação, renovação e transformação em nosso entorno comunitário.
Que como Igreja de Cristo aqui neste mundo de Deus, saibamos aceitar e realizar os desafios que o Senhor da História, Senhor da Igreja e Senhor de nossas vidas, nos propõe para realização da Sua vontade salvadora.


Wislanildo Franco
Pastor da IPU, Presbitério Rio Novo

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A solidariedade de uma viúva


Ela morava em Sarepta, uma importante e rica cidade dos fenícios. Na época, a região de Sarepta estava passando por uma série crise por causa de uma longa estiagem. Os mais atingidos eram, também nessa época, as pessoas mais pobres. Dentre estes pobres estava uma viúva, cujo nome não foi preservado pela tradição. Geralmente a história é ingrata e não preserva os nomes de pessoas que não são importantes, ainda mais quando se trata de mulheres, em especial, viúvas. O texto bíblico de 1 Reis 17.8-16 somente afirma que esta viúva tinha um filho, certamente ainda dependente da mãe, e que os suprimentos da família estavam no fim. Havia comida para uma última refeição. A própria viúva descreve a situação da seguinte forma: “Há somente um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija; eis que apanhei, agora, dois cavacos e vou preparar  esse resto de comida para mim e meu filho; comê-lo-emos e morreremos” (1 Reis 17.12). Tão simples assim: a mãe está disposta a fazer a última refeição para si e seu filho para, então, esperar a morte chegar. O realismo conformado da viúva chega a assustar. A situação não mais permite esperanças. Mas, apesar da situação desesperadora, esta viúva ainda é capaz de realizar um gesto inesperado.
Recém chegara à cidade de Sarepta um profeta do povo de Israel chamado Elias. De acordo com o texto, ele viera à cidade de Sarepta, por ordem de Deus, para encontrar-se com a viúva. Nesse encontro, o profeta Elias não foi nada gentil com a viúva estrangeira ao exigir que ela lhe trouxesse uma vasilha de água e um pedaço de pão, mesmo após tomar conhecimento da situação desesperadora da viúva. A postura de Elias chega a ser arrogante: “Primeiro faze para mim (do resto de farinha) um bolo pequeno; depois farás algo também para ti e teu filho” (v. 13). A viúva bem poderia ter desconsiderado as palavras petulantes desse estrangeiro impertinente. Mas ela não o fez. Talvez porque tivesse pena de um caminhante forasteiro que, sem dúvida, deveria estar cansado, sedento e faminto de sua jornada. Só quem conhece a necessidade tem condições de ver e compreender com generosidade e tolerância as necessidades de outros. A viúva foi e, além de oferecer água ao profeta – água, afinal, não se pode negar a ninguém –, também permite que o profeta participe de sua “última” refeição. Oferece, portanto, a um estrangeiro desconhecido a hospitalidade da sua casa e compartilha com ele o pouco que lhe resta.
Este gesto da viúva é simbólico. Em primeiro lugar, ela não expulsou o profeta, apesar de ser um estrangeiro e um estranho para ela, e apesar de tê-la tratado com arrogância.  Embora se encontrasse em situação precária, ela lhe ofereceu hospitalidade. Com este seu gesto a viúva mostra ao profeta e a todos nós que a partilha solidária é a única maneira de superar as necessidades, ainda que pareçam insuperáveis. Por isso, a história termina com a constatação:  “Assim comeram ele, ela e a sua família muitos dias; da panela a farinha não se acabou, e da botija o azeite não acabou.”
O gesto de solidariedade da viúva com um estrangeiro necessitado corresponde a uma das propostas éticas centrais da Bíblia. Por esse motivo, a história da viúva sem nome de Sarepta foi preservada pela tradição. Ela antecipa o ensinamento de Jesus aos discípulos ao pedir que eles dividam com o povo faminto os seus pães e peixes, ainda que sejam poucos. E onde houver partilha solidária, nunca haverá penúria; pelo contrário, sempre haverá fartura.

(Nelson Kilpp é pastor da IECLB- especialista em AT. Texto cedido pelo autor, publicado na Revista Novo Olhar  Número 23 - Editora Sinodal)

domingo, 29 de janeiro de 2012

Dízimo: uma confissão de fé

“Duas coisas te peço, meu Deus;  não me as negues antes que eu morra:
afasta de mim a falsidade e a mentira;
não me dês nem a pobreza nem a riqueza;
dá-me o pão  que me for necessário;
para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: “Quem é o Senhor?
Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus. Amém!”
(Provérbios 30.7-9)

Introdução

Falar em dinheiro e em contribuição nas nossas igrejas pode causar constrangimento e até aborrecimento. Mas, ainda que muitas pessoas se sintam desconfortáveis com esse tema, é preciso encará-lo e procurar compreendê-lo dentro da tradição bíblica.
No contexto de pluralismo religioso brasileiro, temos assistido inúmeros discursos geralmente de igrejas que entendem a prática do dízimo como uma negociação com Deus a, ou seja, eu pago o dízimo a Deus e, em troca, recebo bênçãos e prosperidade na minha vida. Esse discurso está relacionado com uma teologia que chamamos de “Teologia da Prosperidade”. Cabe, nesse contexto, resgatar o significado bíblico do dízimo, em especial no Antigo Testamento (AT), e tentar atualizá-lo para as nossas comunidades de fé.

Origem e dimensões do termo

O termo dízimo (em hebraico ma’aser) significa a décima parte de alguma coisa. No contexto bíblico o termo tem, pelo menos, duas dimensões: em primeiro lugar, a dimensão da gratidão a Deus pelo que nos foi dado, celebrada festivamente na comunidade de fé; e, em segundo lugar, a dimensão do compromisso  ético, ou seja, o compromisso do cuidado com a vida, as relações justas, a terra, a comunidade e com Deus.

Significado do dízimo no Antigo Testamento

Vamos encontrar, no AT, diversos textos sobre a prática do dízimo. Como não é possível, neste espaço, um estudo aprofundado, contentamo-nos em apontar alguns textos representativos, deixando ao leitor e à leitora a tarefa de se aprofundar em conjunto com a sua comunidade de fé.

1. Gratidão pela vitória (Gn 14). Após vencer diversos reis, Abraão foi abençoado por Melquisedeque, o sumo sacerdote e, ao mesmo tempo, rei de Salém (=Jerusalém). E, em reconhecimento de que tudo que havia conquistado fora graça de Deus, Abraão oferece o dízimo. Abrão tinha consciência de que nada do que havia conquistado era dele, mas tudo pertencia a Javé.

2. Gratidão pela bênção de Deus (Gn 28.1-22). No lugar sagrado de Betel (=casa de Deus), Jacó sonhou que Deus estava presente justamente nesse lugar onde, mais tarde, foi construído o santuário de Betel, para o qual peregrinavam as pessoas em busca da bênção divina, em especial, de terra fértil, colheitas fartas e descendência. Nesse contexto, o dízimo a ser levado ao santuário representava gratidão por todos os bens recebidos através da bênção divina. Tudo vem de Deus, é justo que demos a ele parte do que recebemos.

3. Entregar a Deus o que é de Deus (Lv 27.30-32). O livro de Levítico reúne as mais diversas leis da época, a maioria delas sobre sacrifícios, sacerdotes e coisas puras e impuras, ou seja, leis importantes somente para a sua época. A lei do dízimo confessa que tudo temos vem de Deus e que, portanto, devemos dar a ele o que, no fundo, é dele. 

4. Sustento dos trabalhadores e do serviço do templo (Ne 13.10-14). Os levitas eram as pessoas que se dedicavam ao trabalho religioso nos santuários. Os levitas deveriam receber seu sustento do dízimo levado ao templo. Na época de Neemias, os levitas abandonaram o serviço no templo porque tinham que buscar o seu sustento em outras atividades. Para restaurar os serviços religiosos, Neemias teve que restabelecer o pagamento do dízimo. Isto mostra que os dízimos sustentavam as pessoas que trabalhavam no serviço religioso da comunidade (cf. 2 Cr 31.2-10).

5. Partilhar a alegria da festa e cuidar dos necessitados (Dt 14.22-29). Esse texto traz duas concepções importantes sobre o dízimo. Em primeiro lugar, o dízimo era levado ao templo e consumido comunitariamente no lugar de culto. Predomina o ambiente festivo. Toda a família, inclusive escravos e escravas, participava da festa. O texto mostra que o dízimo é compartilhado em alegria. Em segundo lugar, a cada três anos, o dízimos era reunido guardado em cada aldeia para socorrer as pessoas necessitadas do lugar: órfãos, viúvas, estrangeiros e levitas carentes.

No Antigo Testamento, portanto, o dízimo é basicamente uma contribuicäo regular para o sustento dos que trabalham no templo. Na origem, ofertava-se, como diz o termo, 10% da producäo agrícola e pastoril. Com o decorrer do tempo, no entanto, essa contribuicäo regular se tornou um tanto flexível, näo mais perfazendo todos os 10% da producäo total, ou seja, da receita total da família. Mas permaneceu o objetivo básico: manter o trabalho regular do santuário.

Ao lado do dízimo, havia, no Antigo Testamento, as ofertas esporádicas em forma de sacrifícios com as mais diversas finalidades (primícias, sacrifícios de comunhäo ou de agradecimento, oferendas para expiacäo de culpa, etc.). Esses sacrifícios esporádicos receberam um novo significado no Novo Testamento e na igreja cristä. Essas ofertas, também chamadas de coletas, passam a ser recolhidas, na antiga igreja cristä, para ajudar outras comunidades que se encontram em dificuldades. Exemplo clássico é a coleta que Paulo recolhe nas comunidades gregas para ajudar os pobres de Jerusalém (1 Co 16.1-4; 2 Co 8-9). Essas ofertas formam um elo de comunhäo entre as comunidades. 

Indicações práticas para os nossos dias

Com preocupação ouvimos que membros da igreja, alguns até em funções ministeriais, säo contra o dízimo ou, entäo, demonstram pouco interesse no assunto. Pessoalmente entendo que o dízimo é uma confissão de fé. A confissäo de que Deus é criador, sustentador e mantenedor da vida nos constrange a que demonstremos isso na prática. Expressäo prática säo, entre outros, o culto que prestamos a Deus, o ensino religioso que prometemos dar aos nossos filhos, a tarefa de pregar o Evangelho e de cuidar dos necessitados da comunidade. E esse trabalho só pode ser realizado com a contribuicäo regular dos membros, pois nem todas as tarefas podem ser realizadas somente com trabalho voluntário. Há necessidade de pessoas que se dediquem para além do que é trabalho voluntário, a fim de que as atividades da Igreja possam ser realizadas de forma adequada. A subsistência de pastores e pastoras näo é a única finalidade do dízimo, ou seja, da contribuicäo regular. O dízimo também sustenta toda a missäo da igreja, desde a realizacäo de cultos e o ensino religioso até a manutencäo do templo e os projetos sociais e diaconais da igreja. Sem o dízimo a missão da igreja pode estar ameaçada.
   
Há muitas formas de contribuir: com tempo, talentos e, näo por último, com dinheiro. Importante é não fazer do “dízimo” uma lei no sentido de exigir que cada pessoa ou família contribua com exatamente 10% de sua renda para o trabalho da Igreja. Como cristäos näo podemos ser legalistas. Importante, no entanto, é contribuir regularmente com uma parcela do rendimento, de acordo com as condicöes de cada membro. Cada pessoa deveria poder estabelecer para si a faixa do dízimo adequada à sua sitacäo.
   
Sem dúvida alguma, é extremamente importante organizar, planejar e administrar corretamente o dízimo ou a contribuição regular em nossas igrejas. A realização de uma clara prestação de contas mensal ou anual é de fundamental importância. As pessoas encarregadas de dirigir a comunidade precisam prestar contas do dinheiro que administram e devem fazê-lo com todo zelo e a máxima transparência, sem deixar qualquer margem de dúvida. Não esqueçamos de que quem administra o dinheiro da igreja está administrando doações, contribuições, dízimos de pessoas que entregam este dinheiro à Igreja em sinal de gratidão e reconhecimento de que ao Senhor pertence a terra e tudo o que ela contém.
No ano que se inicia levemos o nosso dízimo ao altar, não buscando, com isso, uma bêncäo pessoal especial como rendimento de nosso investimento financeiro. Levemos o nosso dízimo ao altar com a convicção de que ele será fundamental para a missäo de Deus no lugar em que ele nos colocou. A Ele toda honra e glória!
 
                                                                                                          

                                                         ( Revda Sônia Mota)


Bibliografia

RODOLPHO, Adriano; ESPERANDIO, Mary Rute Gomes e KILPP, Nelson. Verbete- Sacrifício, p. 894-896. In:Dicionário Brasileiro de Teologia. ASTE, São Paulo, 2008.

DREHER, Carlos A. A medida do coração: encontros bíblicos sobre dízimos, ofertas e solidariedade. São Leopoldo: CEBI/CONTEXTO, 2009. Série A Palavra na Vida, n. 260.

ULRICH, Claudete Beise. Dízimo no Antigo Testamento: fidelidade a Deus, princípio de solidariedade e justiça social (texto ainda inédito)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

QUEM SOMOS

Nós somos presbiterianos unidos para uma tarefa junto ao povo brasileiro. A Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU) Itapagipe tem como base a sagrada Escritura. Procuramos interpretar a Bíblia a partir dos princípios da Reforma Protestante do século 16. Queremos compartilhar o amor de Deus com as demais pessoas. Este amor é destinado a todos, sobretudo para aqueles que se sentem fracassados. Sempre é tempo para um novo começo!
Mas também precisamos denunciar e combater todas as forças que impedem a vivência do amor de Deus. Uma igreja fiel e autentica sabe que sempre há adversidades a serem superadas. Queremos nos unira todos que promovem a paz e se identificam com o projeto do Reino de Deus. Por este motivo somos ecumênicos: entendemos que o evangelho se destina a toda terra habitada. Nós queremos nos integrar no grande plano de Deus. Ele tem um projeto amoroso com o universo inteiro e também com a existência individual de cada ser vivo. E assim que entendemos a nossa tarefa nesta vida. E a missão da igreja é levar os indivíduos a uma reconciliação com Deus e lutar pela erradicação das desigualdades entre os seres humanos. O anuncio e a vivencia da Palavra de Deus nós levam ao encontro do pobre e das pessoas que sofre, assim como Jesus também foi. No momento em que a igreja conseguir superar as desigualdades em seu próprio meio, a vida integrada e plena começará a ser uma realidade.

Extraído: Quero falar de minha fé e de minha igreja (IPU)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A BELEZA DE DEUS SE FAÇA EM NÓS


Rev. Luiz Pereira dos Santos 
  
Deus, na sua grandiosa sabedoria, viu em sua mente iluminada, em seu coração abrasado de ternura tudo aquilo que criou. E tudo começou a sair desses dois espaços sem tamanho, sem limites, mas que ao mesmo tempo via a beleza das coisas que daí iam nascendo. Desses cantinhos de Deus nasceu a terra, a mãe, a base para toda a vida; nasceu as águas, que se misturadas com a terra florescia a exuberância da natureza. Então a água e a terra fizeram uma aliança que, daquele momento em diante haveriam de estar sempre juntas para que a beleza do criador se fizesse presente em tudo.
Desse belíssimo  casamento surgiram as plantas e os animais nas suas várias tonalidades existentes e, alimentadas pela terra e pela água, coloriram de beleza – com a exuberância da flores, com a imponência das árvores e com a suavidade dos campos, com o cantar dos pássaro, com o sussurro dos animais maiores, com o mergulho dos peixes – um cantinho do universo.  Aqueles dois elementos, agora, um só corpo, unidos e diluídos um no outro para serem  mais do que simplesmente eram individualmente, água e terra. Eles são agora o mundo, eles são a vida, eles são os sonhos de Deus.
Para que tudo ficasse perfeito, das entranhas daquela unidade misteriosa, a mão do criador retira uma porção latejante das fibras que interligam todas as coisas, e começa a moldar um pequeno boneco. Não era uma brincadeira, era sim um grande desejo de poder dividir o que Ele era. Das suas mãos nasceu a sua semelhança. Um pouco abaixo da sua majestade nos criastes. Sim, agora podia descansar, pois não se encontrava mais sozinho na imensidão do nada. A sua beleza se fez em nós.
O tempo foi passando e o criador continuou sempre no cuidado de tudo que gerou. Ele mesmo será o guia, especialmente daquela criatura que por último apareceu. Percebe que é necessário alimentar esta criatura com alimentos diferenciados, e então coloca nela um espírito de vida, acrescenta uma porção considerável de esperança, uma pitadinha de riso, que faz uma diferença enorme, uma porção calcada e sacudida de fé e uma quantia enorme de fraternidade. Com esses ingredientes, e outros,  todos os seus semelhantes têm muitas e muitas razões para viverem, e sonharem os sonhos do criador.
Muitos sonhadores sonharam com o criador. Assim foi para um velho casal, já debilitados pelo passar do tempo, mas alimentados pela deliciosa esperança. A cumplicidade com o criador era tão grande que viviam num profundo diálogo. Trocavam muitas idéias a respeito da vida que viviam, e as vezes, não compreendiam algumas colocações e pedidos do criador. Mesmo não compreendendo muito bem as promessas que lhes eram apresentadas, eles se deixavam levar pelas  leves asas de Deus  - a semelhança dos passarinhos - que certamente contemplavam nas folhas verdejantes do carvalho de Mambré. Os dois voavam nas promessas do criador. Esse embalo, firmado no despojamento e na esperança provocava  uma um pouco de incerteza e medo, mas nada comparado com os muitos risos que davam. Risos nascidos muito mais da alegria em serem receptivos a promessa do que de dúvidas em relação a ela. Risos que nascem pela renovação das entranhas da vida que carregavam em seus corpos cambaleantes.
E com passos firmes e decididos rumo a grande descendência eles esperaram e acreditaram que poderiam ser e criar, com o criador, numerosos guardiãs do seu paraíso. Guardiãs daquele mistério profundo, daquela mistura vital, daquela criação perfeita; daquela promessa de vida a todos os seus. Para aprofundar esta aliança é bom que:
Sejas um pouco do criador - que te gerou como semelhança sua, para que vivas a sua vida – protetor e guardião da vida. Da vida das gentes, das borboletas, das plantinhas, da águas;
Sejas um pouco da mistura da água com a terra, para que te renoves também a cada instante e em ti possas brotar as ramagem do amor e da fraternidade;
Sejas  um pouco de Abraão e de Sara para que vejas, mesmo diante do impossível, o possível de Deus acontecer;
Sejas um pouco de Moises que tirou as sandálias para se apresentar livre diante do Eu Sou, sem nenhuma amarra...sem  preconceitos, sem as suas verdades, mas para acolher a ternura e bondade de Deus.
Sejas um pouco dos discípulos e discípulas de Jesus, que passaram a viver a força da oração e da partilha do pão em suas    vidas;
Sejas muito do Cristo Jesus para que possas irradiar constantemente em sua família, em seu trabalho em sua igreja, ou onde quer que você viva, as chamas desse amor de Cristo que iluminam e aquecem a sua vida.
Sejas um pouco de você mesmo, um pouco do outro e um pouco de Deus para que a beleza do  Cristo se veja em ti, em mim, em nós.